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Um brinquedo de gente grande

Texto de Maria do Carmo Nino

texto_redentorno_Maria

 

Redentor no / red entorno / torno red en

Redentor, segundo o dicionário, é o que redime, liberta, um salvador enfim. Tendo como título o neologismo Redentorno, a artista plástica Juliana Notari apresenta uma exposição composta de uma videoinstalação e de fotografias que constituem, em seu conjunto, a oportunidade, para o espectador que adentra no espaço, de experimentar a sensação de uma disposição eminente e espacialmente claustrofóbica e mentalmente perturbadora, inteiramente monitorada pela artista em direção à compulsão à repetição, que, segundo a psicanálise via Freud, é indissociável do automatismo psíquico.

Contrariamente à redenção, temos aqui a alegoria de uma prisão, através de uma compulsão sintomática que não procede jamais de maneira independente, frequentemente ligada, ela própria, à compulsão ao simbolismo e à associação.

Como não perceber, ao nos tornarmos cúmplices dessa situação, uma vez que, quando entramos no recinto, passamos a ter a sensação de sermos o ponto de referência em torno do qual o cãozinho de brinquedo gira incessantemente, que Juliana ludicamente nos coloca numa armadilha?

Quem é afinal o mestre da situação, nesse dialogismo que não deixa de evocar uma relação de poder-dependência de mão dupla?

Se enquanto crianças vemo-nos como o centro de tudo o que nos rodeia e medimos o nosso reino imaginário segundo a distância entre nós mesmos e o objeto de nossos desejos, através de ações que se alternam entre alegrias, bem-estar, inseguranças e temores, ao nos tornarmos adultos e nos diversos grupos sociais com os quais nos envolvemos, a centricidade permanece como uma motivação nas nossas trocas simbólicas com tudo e com todos.

Amadurecer é então perceber que nosso centro convive igualmente com outros, coletivamente, os quais temos que levar em conta, afetando e nos deixando afetar, conduzindo então a uma relação na qual o permanente embate complementar entre o caráter cêntrico (espaço da repetição) e o excêntrico (espaço da diferença) é a condição necessária para o equilíbrio do nosso estar neste mundo.

Essa luta carregada de tensão constitui uma força vital para a imaginação artística, como vemos no caso de Juliana, porque simboliza muito bem o nosso esforço diário de superação entre as forças antagônicas constitutivas da pulsão de vida e de morte, pelo menos até que a pilha se acabe de vez.

 

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