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Symbebekos

Texto de Carlos Lopes

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O resgate de elementos que são produtos de uma imposição significativa, onde seu valor não é mais do que o determinado pela sociedade industrializada ou de consumo, pode conduzir a um comportamento transgressor diante das convenções estabelecidas. Comportamento este que rompe com preconceitos, com atos comportamentais convencionalizados e sua velha codificação, e desmistifica objetos, resgatando atitudes ignoradas pela sociedade que se sustenta na omissão e na deturpação destas atitudes-comportamentos, e numa “ordem” aparente que, na verdade, mascara um desenraizamento do homem com valores que lhe são intrínsecos. A performance converge com estas tentativas de explicitar a necessidade de se romper com estruturas tão “sólidas” e castradoras, onde comportamentos não socializados, comportamentos insólitos e aberrantes, comportamentos desconhecidos são tratados de forma não-significativas. A expressividade da performance permite uma intervenção mais efetiva nas questões sócio-culturais, já que o corpo, fonte semiótica transbordante, dentro do contexto no qual esta inserido, apresenta uma gama de códigos a partir  dos quais se instaura uma ressemantização dos elementos extraídos do cotidiano. Não obstante, ela vai mais além também na sua materialidade artística, que não se conforma em ser estática, consistindo a sua artisticidade no próprio processo de criação, cujo resultado, o impacto, atribuem-se única e exclusivamente ao “acaso”. Tais considerações permeiam instantes que envolvem ou são envolvidos por “Symbebekos”, performance de Juliana Notari.

Atenta para a condição de existência do homem nas sociedades contemporâneas, Juliana  realiza uma crítica às situações de vida. Apresentando seu corpo e o tempo desse corpo num processo quase onírico de desconstrução histórica e ritualística, onde a realidade é fraturada e exposta ao público. Na performance “Symbebekos”, Juliana N. anda por entre cacos de vidro espalhados no chão. O percurso que traz, a priori, relações do significante com rituais de passagens de sociedades primitivas, é menos um regaste desses do que sua própria desconstrução. E como é sugerido no próprio título da obra, a noção de causa acidental (symbebekos) permeia a performance, tanto na sua concepção quanto nos seus desdobramentos.

 

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